por Igor Gasparini
Atores, bailarinos, musicistas precisam,
constantemente, enfrentar seu público. Para alguns, em especial os amadores ou aqueles
ainda em formação, essa tarefa não é tão fácil, gerando medo, ansiedade e
prejudicando sua performance no
palco. O que há então, neste momento, que faz com que os artistas, muitas
vezes, não desempenhem tão bem quanto fazem nos ensaios? A questão não está no
palco, mas como cada um lida com a sua ansiedade.
A
arte, na maioria das vezes, é procurada com a intenção de aliviar as tensões e
o estresse do cotidiano. Entretanto, para aqueles que trabalham com ela,
amadora ou profissionalmente, além do prazer que é inerente à prática, diversos
são os componentes que podem gerar situações de estresse ou ansiedade.
Segundo
estudos da psicologia esportiva, existem diversos casos de atletas que
apresentam brilhantes performances em
treinamento, porém, diante da pressão da competição, realizam a atividade sem
atingir o seu potencial total. O mesmo ocorre com bailarinos e atores
profissionais.
Segundo
Hackfort e Schwenkmezger (1993), a ansiedade é considerada uma emoção típica do
fenômeno estresse, estando assim relacionada, o que não condiz com a proposição
de sinônimos. A ansiedade é considerada um estado emocional decorrente de uma
situação de importância para o indivíduo, sendo exteriorizada enquanto
sentimentos de tensão, apreensão, nervosismo, preocupação e ativação elevada do
sistema nervoso autônomo, vivenciados subjetiva e conscientemente. Isso começa
a explicar o que ocorre nos palcos.
Para Spielberger (1972), a ansiedade é um complexo
estado ou condição psicológica do organismo humano, constituída por
propriedades fenomenológicas e fisiológicas que se diferencia de estados
emocionais como o estresse, a ameaça e o medo, pois tais eventos se apresentam
como possíveis causadores do estado de ansiedade. Além disso, a ansiedade pode
se apresentar de formas distintas como, por exemplo, a ansiedade enquanto
estado ou enquanto traço. O estado de ansiedade refere-se a um evento emocional
transitório ou condição do organismo humano caracterizado por sentimentos
desagradáveis de tensão e apreensão conscientemente percebidos, e por um
aumento na atividade do sistema nervoso autônomo, gerando reações
psicofisiológicas como taquicardia, “frio na barriga”, “arrepio na espinha”,
entre outras.
Por outro lado, o traço de ansiedade refere-se a
diferenças individuais relativamente estáveis em propensão à ansiedade. Em
geral, seria de se esperar que os indivíduos que apresentam alta ansiedade
traço demonstrariam elevações de ansiedade estado, pois se a circunstância for
percebida como ameaçadora, sem objeto de perigo, ou seja, simbólica,
inespecífica e antecipada, o indivíduo responde com alta ansiedade estado.
A avaliação cognitiva tem uma importância muito
grande nesse processo, pois a intensidade das respostas emocionais acontece em
função de como os artistas interpretarão as situações, seu significado e a
habilidade que ele terá para lidar com elas. As interpretações dependerão de
uma série de atributos como: crenças, auto-conceito, nível de habilidade,
quantidade de ensaios, treinos, importância da apresentação e nível de
expectativa.
As respostas (que poderão ser fisiológicas ou
psicológicas), por sua vez, estarão diretamente relacionadas à avaliação
cognitiva. Quando essa avaliação indicar que a situação pode representar uma
ameaça ao artista, então haverá uma mobilização de recursos para que ele possa
lidar com ela. Não conseguindo, o artista poderá sofrer uma influência negativa
e ter, entre outras coisas, seu desempenho no palco prejudicado.
Dessa forma, perceber se ansiedade está
atrapalhando a performance no palco
já é um princípio para poder controlá-la; e a partir disso, a realização de
exercícios que baixem o estado de ativação conseguirá, por meio de técnicas
específicas, aproximar ao máximo o resultado no palco daquele obtido nos
ensaios.
Esse
texto foi adaptado do artigo “Estresse e
Ansiedade em Bailarinos Amadores e Profissionais”, publicado na Revista Iberoamericana de Psicología del
ejercicio y el Deporte (Espanha) - Vol.7, nº 1 pp. 49-69. Fruto do trabalho
de conclusão de curso em Ciências da Atividade Física da USP. Acesse o Artigo Completo.
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