sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O medo dos palcos


por Igor Gasparini



            Atores, bailarinos, musicistas precisam, constantemente, enfrentar seu público. Para alguns, em especial os amadores ou aqueles ainda em formação, essa tarefa não é tão fácil, gerando medo, ansiedade e prejudicando sua performance no palco. O que há então, neste momento, que faz com que os artistas, muitas vezes, não desempenhem tão bem quanto fazem nos ensaios? A questão não está no palco, mas como cada um lida com a sua ansiedade.

            A arte, na maioria das vezes, é procurada com a intenção de aliviar as tensões e o estresse do cotidiano. Entretanto, para aqueles que trabalham com ela, amadora ou profissionalmente, além do prazer que é inerente à prática, diversos são os componentes que podem gerar situações de estresse ou ansiedade.

            Segundo estudos da psicologia esportiva, existem diversos casos de atletas que apresentam brilhantes performances em treinamento, porém, diante da pressão da competição, realizam a atividade sem atingir o seu potencial total. O mesmo ocorre com bailarinos e atores profissionais.

            Segundo Hackfort e Schwenkmezger (1993), a ansiedade é considerada uma emoção típica do fenômeno estresse, estando assim relacionada, o que não condiz com a proposição de sinônimos. A ansiedade é considerada um estado emocional decorrente de uma situação de importância para o indivíduo, sendo exteriorizada enquanto sentimentos de tensão, apreensão, nervosismo, preocupação e ativação elevada do sistema nervoso autônomo, vivenciados subjetiva e conscientemente. Isso começa a explicar o que ocorre nos palcos.

Para Spielberger (1972), a ansiedade é um complexo estado ou condição psicológica do organismo humano, constituída por propriedades fenomenológicas e fisiológicas que se diferencia de estados emocionais como o estresse, a ameaça e o medo, pois tais eventos se apresentam como possíveis causadores do estado de ansiedade. Além disso, a ansiedade pode se apresentar de formas distintas como, por exemplo, a ansiedade enquanto estado ou enquanto traço. O estado de ansiedade refere-se a um evento emocional transitório ou condição do organismo humano caracterizado por sentimentos desagradáveis de tensão e apreensão conscientemente percebidos, e por um aumento na atividade do sistema nervoso autônomo, gerando reações psicofisiológicas como taquicardia, “frio na barriga”, “arrepio na espinha”, entre outras.

Por outro lado, o traço de ansiedade refere-se a diferenças individuais relativamente estáveis em propensão à ansiedade. Em geral, seria de se esperar que os indivíduos que apresentam alta ansiedade traço demonstrariam elevações de ansiedade estado, pois se a circunstância for percebida como ameaçadora, sem objeto de perigo, ou seja, simbólica, inespecífica e antecipada, o indivíduo responde com alta ansiedade estado.

A avaliação cognitiva tem uma importância muito grande nesse processo, pois a intensidade das respostas emocionais acontece em função de como os artistas interpretarão as situações, seu significado e a habilidade que ele terá para lidar com elas. As interpretações dependerão de uma série de atributos como: crenças, auto-conceito, nível de habilidade, quantidade de ensaios, treinos, importância da apresentação e nível de expectativa.

As respostas (que poderão ser fisiológicas ou psicológicas), por sua vez, estarão diretamente relacionadas à avaliação cognitiva. Quando essa avaliação indicar que a situação pode representar uma ameaça ao artista, então haverá uma mobilização de recursos para que ele possa lidar com ela. Não conseguindo, o artista poderá sofrer uma influência negativa e ter, entre outras coisas, seu desempenho no palco prejudicado.

Dessa forma, perceber se ansiedade está atrapalhando a performance no palco já é um princípio para poder controlá-la; e a partir disso, a realização de exercícios que baixem o estado de ativação conseguirá, por meio de técnicas específicas, aproximar ao máximo o resultado no palco daquele obtido nos ensaios.


     Esse texto foi adaptado do artigo “Estresse e Ansiedade em Bailarinos Amadores e Profissionais”, publicado na Revista Iberoamericana de Psicología del ejercicio y el Deporte (Espanha) - Vol.7, nº 1 pp. 49-69. Fruto do trabalho de conclusão de curso em Ciências da Atividade Física da USP.  Acesse o Artigo Completo.


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