por Rodolfo Lima
Sobre Carne Urbana
T.F.Style Cia de Dança
T.F.Style Cia de Dança
Penso que o mais interessante do trabalho foi a perspectiva de ver de dentro. Quando foi dado o comando de que podíamos circular pelo espaço, a vontade e vocês foram se movimentando apesar de quem e como as pessoas os rodeavam, pensei: isso é bem legal. Pois o olho a olho poderia alterar o estado emocional do interprete, bem como o do público. Para mim uma troca justíssima e bem vinda. Não me senti invadindo, muito pelo contrário, me senti acolhido, pertencente aquele universo, mesmo que de braços cruzados e imóvel.
Em certo momento vocês construíram aquele monte-estátua a poucos centímetros de mim. Ou seja, bastava eu esticar as mãos e eu estava dentro da cena, com vocês. Inserido num universo que nem sei qual é, mais que me receberia. Uma das grandes questões da contemporaneidade é quando o artista propõe uma interação e não dá conta dela. É muito moderninho se dizer descolado e desconstruído, supor uma abertura ao público e se acovardar diante do infinito que é o outro. Se o trabalho é esse: o-público-e-os-artistas-tudo-
Caso eu me mexesse e também tentasse esticar meu corpo no máximo que eu pudesse, a sensação é que eu não seria desprezado por isso. O que aconteceria? Ficou na imaginação. Esse foi o maior ganho para mim do trabalho, a possibilidade de poder ser, apesar de não ser. Me lembrou um pouco o que a Lia Rodrigues propõe com o "Para que o céu não caia", mas o fato de vocês supostamente se permitirem mais, me chamou a atenção.
Mas quem delimita esse limite? Em dado momento, senti uma respiração no meu tornozelo, ou seja, estavam comigo, mesmo sem me tocar. Que sensação agradável. Para mim, foi um absurdo ter sido acusado de ter atrapalhado após a apresentação. Uma visão retrógrada do quem vem a ser uma interação, a dança, a troca. Primeiro, porque eu tinha liberdade para SER LIVRE NO ESPAÇO, e segundo porque eu acreditei (intui) que a interação com vocês era parte do trabalho. Quando me vi sozinho no meio de vocês, senti vergonha dos colegas artistas, que escolheram se escorar num canto, impossibilitando o contato com vocês. Porque não nos misturarmos mais, em vez de nos apartarmos?
Acho que os artistas não estão na mesma entrega. Senti com duas bailarinas - por exemplo - um misto de abertura e concentração muito interessante, ou seja.. elas poderiam ser afetadas por mim, mas estavam conscientes do que deveriam fazer. Dos meninos... vi mais técnica e menos intimidade.Vamos nos olhar e não nos contaminar. Mas com duas de vocês não... foi quase como se pudesse abraçá-las, por exemplo. Ou seja, o sentimento - seja lá qual ele for, e tudo bem ser sentimentos ruins, não é claro para todos. E como medir uma entrega? Então, diria que essa disponibilidade individual é algo que talvez precise ser equalizado entre todos. Ou não né... afinal a arte em si em contato com o público é uma obra aberta.
São desse tipo de artista que se arrisca que quero me contaminar. Vocês poderiam ter se arriscado mais? Sim. Mas espero que a inquietação que move vocês e os estimula só cresça, para que todos entendam que não a nada mais bonito, emblemático e tocante do que a carne da alma exposta. Que o suor produzido da fragilidade. Acho que essas palavras divergem um pouco do consenso e talvez seja importante, não para inflar o ego, mas para ressaltar que me proporcionaram um vislumbre de reciprocidade com a arte. E isso, meu caro... é muita coisa, creia.
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